Frase da Vez:
Spoil yourself a little...
Gâtez-vous un peu...
"Biscoito da Sorte (e não é do chinês)"

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O desabafo do ano - Adeus ano velho!!!! Xô!!

Esta decisão é muito sensata e sei que é natural a confusão de sentimentos, mas a atitude se faz urgente e eu respeito suas escolhas como vc respeita as minhas. Só tomei a decisão de querer te ver pq, apesar de classificar minha vida como miúda em oposição à sua, que deve ser um vidão (são declarações como estas que reforçam o passado e remexem as feridas prejudicando nossa convivência prazeirosa), vc disse no último mail que gostaria de me encontrar se eu assim o desejasse, mas entendo perfeitamente. Nós somos um turbilhão de emoções.

Eu gosto muito de vc e sei que vc sabe disso. É claro que ainda existem muitas marcas do passado. Eu perdoei, mas não esqueci. Talvez esqueça se um dia entender por vc ou por mim mesma o motivo de tanta opressão que sofri. Foi movida de muita angústia e de um sentimento de impotência imenso que resolvi mudar minha vida e tudo está sendo proposital. Há 17 meses resolvi transcender e venho tomando decisões sem olhar para trás e sem querer enxergar muito adiante. Estou passando por muitas provações e reinterpretando tantas outras... Já mudei de opinião sobre diversos conceitos que estavam congelados pelo desconhecido. Eu já sabia que a informação libertava, mas a vivência é a informação contextualizada que gera a experiência e que nos fortalece.

Como falamos mais aos sentidos é verdade que nós mulheres guardamos mais fundo as decepções, humilhações, saudades e rancores, mas por isso mesmo quando sabemos amar o fazemos sem pensar em nós e o resultado mais bonito dessa capacidade são os relacionamentos que acabam inspirando o mundo como o que vivemos, apesar de todo o desequilíbrio. E foi assim que te amei até começar a aprender a viver. Também afirmo sem medo de errar que entre nós existe a capacidade de encarar aventuras sem compromisso, usufruindo do prazer pelo prazer. Isso tem suas consequências no sexo oposto, pois ainda temos que ser muito fortes para sustentarmos nossas escolhas diante do homem tradicional que não sabe que carrega dentro de si um preconceito imenso com mulheres independentes e resolvidas.

Em 1949 Simone de Beauvoir escreveu sobre a independência da mulher e ainda hoje sofremos com as desigualdades. Dizia ela: "O código francês não mais inclui a obediência entre os deveres da esposa, e toda cidadã tornou-se eleitora; essas liberdade cívicas permanecem abstratas quando não se acompanham de uma autonomia econômica. A mulher sustentada - esposa ou cortesã - não se liberta do homem por ter na mão uma cédula de voto; (...). Foi pelo trabalho que a mulher cobriu em grande parte a distância que a separava do homem; só o trabalho pode assegurar-lhe uma liberdade concreta. Desde que ela deixa de ser um parasita, o sistema baseado em sua dependência desmorona; entre o universo e ela não há mais a necessidade de um mediador masculino."

Ela diz também que precisamos aproveitar francamente nossas possibilidades, do contrário sofreremos mais tarde as desvantagens de um mau início. Tive um início ruim e penso que um complexo de inferioridade que ainda insiste em não sair daqui de dentro, mas agora eu tenho a maturidade e a oportunidade de construir minha própria possibilidade e, finalmente, alcançar minha autonomia, a qual nunca mais renunciarei.

A grande maioria dos homens bate no peito chamando as donas de casa ou as mães de família de parasitas, mas quando deparam-se com mulheres auto-suficientes acovardam-se por não conseguirem mais ter o domínio pela opressão causada pela dependência financeira. Ameaçam ex-mulheres quando essas dependem deles e tentam levar um pouco de romance para suas vidas, massacram as atuais pelas inseguranças contratuais e sufocam tentativas de retorno com afirmações descabidas.

Quando a mulher se alforria ela se coloca em pé de igualdade e pode reivindicar para si a mesmíssima liberdade de ser dona da sua história. Eu sou mto passional, decidida e intensa o que naturalmente dramatiza um pouco mais qualquer relação, vc sabe bem disso. Mas domino a arte de amar incondicionalmente e vc foi e ainda é o alvo deste sentimento arrebatador que conosco atingiu a mais intensa das formas. Sei que pelo perfil do nosso relacionamento não ficará a amizade e muito menos a reinvenção para algo mais brando pq eu não deixarei evoluir por me considerar traidora do que um dia foi intenso e recíproco. Também prefiro guardar em um canto da minha alma.

Sucessivos desapontamentos virão. Não nos enganemos. Mas é claro que concordo contigo: "Não tenho conclusões e o futuro não é um véu descortinado cheio de certezas e convicções." Me pego sonhando com contos de fadas reais. Simone e Sartre, Roberto Marinho e Lily de Carvalho... Nada é impossível, realmente.

Mas vivemos de presente e ele não nos permitiu uma despedida. Não importa o que vc ouvir, este é apenas mais um capítulo da minha vida e está longe de ser o definitivo, se é que isso existe. "Para sempre" e "certeza" são palavras entremeadas de finitude e erros.

Pela segunda vez consecutiva terei que concordar com os melancólicos, depressivos e saudosistas e passarei as boas festas de final de ano com o coração apertado pelas incertezas e pela saudade que vou sentir de vc agora e nos próximos anos da minha nova vida.

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